21/01/2007

"Correspondencia" - O braço do destino

As reacções foram diferentes, quase opostas: qualquer espontaneidade estaria destinada a culminar num retrocesso que os anos haviam ensinado; contudo, algo naquela situação fazia diminuir o peso imponderável da autoridade nunca antes questionada. A figura de Domitilia pareceu perder volume, ombro a ombro com o desconhecido, de que nem ela havia previsto a existência. Por instantes, pairou no ar um silêncio embaraçoso, no qual cada um procurava em vão referências antigas. Ninguém se terá apercebido do sentimento fugaz que contorceu o rosto de Jocefina; Gertrudes posou enfim o pé no tapete, devagar, como que pisando realmente o terreno incerto. Então, o rapaz apresentou-se. Chamava-se Arcimboldo Uganda e vinha de terras impronunciáveis. Dizia-se de fortuna e posição, apresentava-se como tal, e vinha pedir hospitalidade por algumas noites. É possível que a vulgaridade de tal enunciado se afigurasse extraordinária aos ouvidos daquelas seis almas, tão surdas aos ruídos do mundo. Mas apenas Domitilia se pronunciou, dando ordens para que fossem tomadas as devidas providências. Naquela noite, várias cimeiras tiveram lugar por todo o casarão. Tomaram-se decisões, esmiuçaram-se hipóteses e sentimentos, praticou-se até um pouco de magia negra. Os dados estavam lançados e cada um adormeceria a calcular, exactamente, as probabilidades de saírem a seu favor. Domitilia permaneceu acordada algum tempo. Sentada muito direita, perscrutava a escuridão com o olhar agudo que a idade não embaciara. Quando terminou o exame silencioso à pulsação da casa, ergueu-se. Havia passado muito tempo desde a última vez que a anciã fizera aquele percurso em sentido inverso, carregando um embrulho irrequieto e todo o peso de uma decisão solitária. No entanto, não deixa de ser invulgar que, vinte e três anos depois, o braço do destino a tenha conduzido à porta errada. Gertrudes escutou-a em silêncio
(por Carlota Cunha, a Gertrudes)

8 comentários:

Tits and Acid disse...

"Os dados estavam lançados e cada um adormeceria a calcular, exactamente, as probabilidades de saírem a seu favor. (...) Quando terminou o exame silencioso à pulsação da casa, ergueu-se."

valeu a pena esperar :D


p.s. esses nomes estão fantásticos xD

Willa disse...

Os nossos nomes sao lindos!=D ah brutal! mas eu tenho a parte mais lixada!

mikkas disse...

vamos lá ver o destino de cada uma das mulheres da família cruz credo

Anónimo disse...

acho bem!

(quero maiiis)

:)

Kinetica disse...

concordo que valeu mesmo a pena esperar.=)
continuo ansiosa.

Rafaela disse...

cada vez melhor. cada vez mais empolgante.

está a ficar uma história excelente.

parabéns ao "autores de nomes esquisitos" :)

Joquinha disse...

Aqui também estou eu como disse!
Gosto mesmo muito da história desde o príncipio!
Está lindoo!cada vez dá mais vontade de ler e mais vontade de vir aqui todos os dias verificar se já chegou o resto da história dos nomes esquisitos, sim porque são esquisitos mas isso dá um certo "rir" à história!:D
Continuemmm :P
Beijinhos e saudades para ti Fred!

Joquinha disse...

E respondendo:

Sim quero um mundo de sorRISOS(para nós)

Como é o meu mundo?
Um mundo azul pois é a minha cor preferida...um mundo onde apenas vejo a felicidade como principal objectivo a alcançar.

Gosto do teu mundo!
Uma interpretação do meu, uma versão do nosso!:P