Uma casa, um daqueles recantos do mundo que parecem ter sido esquecidos pela própria memória… A família Cruz Credo sempre aí viveu: em redor da casa, planícies sem fim que quando tocam o horizonte se desfazem em céu. Há muitos anos que estas planícies não sentem passos humanos, há muitos anos que estes campos não saboreiam o cultivo e, assim, na primavera crescem flores silvestres desordeiramente.
No entanto, em casa nunca há flores, as jarras já não conhecem senão o pó do tempo e da angústia… Na sala, à volta da longa e majestosa mesa, seis cadeiras reunem a todas as refeições Dona Domitília, Crisálida, sua filha, Gertrudes, Jocefina, Miquelina e Jervásia, suas netas.
Três gerações fadadas pela desgraça vivem no silêncio de quem espera pelas horas, na cegueira de quem nada vê para o exterior. A cada passo, há segredos que fazem doer por dentro e em cada olhar, dizem-se coisas que não podem ser ditas.
Era Dezembro, o tempo frio, em breve começaria a nevar e tudo estava calmo. A noite caiu e trouxe consigo a brancura dos farrapos celestes, as senhoras da casa apagavam as suas velas e cada quarto, um a um, encontrava o breu.
Ninguém sabe quanto tempo passou desde a última chama acesa, o tempo naquele sítio era contado pelas vidas, mas sucedeu que todas ouviram, com espanto, seis pancadas na porta dos fundos. No átrio dos quartos, as cinco uniram os olhares surpresos, embora sem medo. Calmamente, com um passo vagaroso, passou Domitília que, sem levantar os olhos das carpetes, nem sequer se deter para falar, desceu a escadaria. Agia como se aquilo acontecesse todas as noites, apesar de que há vinte anos que não tinham visitas…
Ninguém se atreveu a segui-la, as ordens escritas na sua altivez eram claras: ficariam ali e aguardariam. Foram breves os momentos seguintes, ainda que o passo da matriarca fosse lento e a distância grande. Isto porque as mentes de cada uma das cinco voavam em ilusões abafadas pela aparente impavidez. Ainda assim, Gertrudes, a mais nova, batia ao de leve com o pé no chão e quase imperceptivelmente fazia ranger a madeira do soalho. Regressou então Domitília e, atrás de si, um jovem alto e com ar diplomático. Ainda que desmazelado pelo temporal, pela viagem e pelo frio, a sua altivez e o seu requinte eram notórios.
As reacções foram diferentes, quase opostas:
(por Rosa Bandeirinha, mais conhecida por Domitilia)
8 comentários:
OH ANDRÉ NÃO GOSTO DE DEIXAR HISTÓRIAS A MEIO POR ISSO VÊ LÁ SE CONTINUAS ISTO DEPRESSA! :D
WOW!!!!!!!!
So pudia ter sido a Rosa mesmo!!!
va va va... segue pa proxima parteeee... agora fikei curiosaa!!!
Beijitooo*
Ouve lá ó fred, mas que raio de estória é esta que não tem fim?
É para deixar água na boca e formigueiro no rabo?
Faz o favor de botar o resto da estorinha......já!!!!
Senão quando aí for, levas um carolo.
"fadadas pela desgraça vivem no silêncio de quem espera pelas horas, na cegueira de quem nada vê para o exterior."
adorei a frase :)
Todo o texto está lindo!!!
:) ***
que texto espectacular.
fez-me ainda mais impressão por a parte da história em que o jovem entra na sala fazer lembrar a história de um livro de Balzac, "Eugénia Grandet".
está bastante genial.
VIVA NÒS :P
vamos la esclarecer as coisas...
eu tenho vindo aqui quase todos os dias e nao vem mais historia?
....
Eu ainda não postei o resto da história pq a segunda part ainda ta a ser escrita...
mas calma que está quase;D
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